Obituário: Oscar Gatica
Faleceu sexta-feira (29), aos 71 anos, Oscar Gatica, argentino tornado brasileiro por força de circunstâncias adversas, nome fundamental para a luta na defesa intransigente dos direitos humanos no Brasil, de que, afinal, tornou-se sinônimo.
“Era uma pessoa convicta na luta de direitos humanos, mas também na alegria de juntar as pessoas em torno de um churrasco. Ele que transformou um medo em luta e teimosia, da Argentina ao Brasil optou por ser paraibano do Brejo”, declarou Rosiana Queiroz, militante de direitos humanos que privou de sua amizade.
O medo transformado em luta e teimosia a que ela se refere foi a recuperação de seus filhos com Ana Caracoche já adultos, sequestrados e entregues para adoção quando ainda crianças pela ditadura militar argentina, em cujo enfrentamento Gatica integrou o Grupo Guerrilheiro Montoneros.
Parte de sua biografia foi contada por Samarone Lima no livro “Clamor – A vitória de uma conspiração brasileira” (Objetiva, 2003). Foi um dos fundadores e dirigente do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e por longos anos atuou no Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra (CDDH Serra), no Espírito Santo, de onde teve que se mudar, com destino à Paraíba – onde seguiu atuando, desta feita na hoje extinta Sociedade de Assessoria aos Movimentos Popular e Sindical (Samops) –, por conta de ameaças de morte sofridas quando do enfrentamento, desbaratamento e quebra da impunidade do grupo de extermínio “Scuderie Detetive Le Cocq”.
Entre outros inúmeros feitos, Gatica também contribuiu com a formulação e criação do Programa Nacional de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita) e coordenou a Campanha Nacional Permanente contra a Tortura.
Oscar Gatica deixa um legado fundamental para a prática cotidiana de militantes de direitos humanos no Brasil. A máxima de Che Guevara parece lhe/nos orientar: endurecer, sem perder a ternura jamais.
Descanse em paz, Gatica! Obrigado por tudo!